Travessia

Como escreveu o sábio Fernando Pessoa...

“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos“.

E aí...

De repente, você percebe que fez aquela travessia...  Que quase todo mundo ansiosamente acredita que deve acontecer de forma estrondosa e radical, mas que nem sempre precisa ser assim.

Você está com os trajes novos! E só agora se deu conta de que o novo caminho foi percorrido diariamente por suas pequenas escolhas e atitudes, ou até em certos momentos apenas por pensamentos.

Aquela nova roupagem lhe cai bem, e embora muitos não percebam, você sabe que atravessou aquela estação ao encontro de si mesmo.

Rosicleide David

Poeta

Saudade das memórias que não tive...

De um tempo que não vivi,

mas que não me é alheio.

O Poeta me escreveu naqueles versos...

E foi naquela poesia que encontrei as minhas primeiras palavras.

Rosicleide David

PaZ

Chegou assim de mansinho...
Eu acreditava estar sozinha, mas era impossível não sentir aquela presença...
Branda, de um equilíbrio impecável entre a força e a tenuidade.
A princípio era como se estivesse sentando-se ao meu lado, tratava-se apenas de familiarização.
Em pouco tempo, pertencia a mim.
Aquela brisa, antes presente no ambiente que me cercava, agora passeava dentro de mim.
Percorrendo e acompanhando os movimentos da minha respiração, de maneira tênue e forte ao mesmo tempo.
Que sensação de paz!
Aquela brisa veio acalentar a minha alma e trazer ao meu corpo uma espécie de fluido feito de energia e serenidade...
Chamava-se "consciência tranquila".




Rosicleide David